17 de maio de 2017

O Renascença se Exila das Passarelas


 A quarta da direita para esquerda Dirce Machado, Miss Renascença 1960.
Iara Santos, Miss Renascença 1961, é a quinta da direita para esquerda.
 
Miss Renascença de 1963 Aizita Nascimento, é a terceira das cinco misses fotografadas.
Miss Renascença de 1964, Vera Lúcia Couto dos Santos, de maiô e vestido by Hugo Rocha.
Sandra Duarte, Elizabeth Santos (Miss Renascença de 1966), Maria Elizabeth e Ana Cristina Ridzi.
Sônia Maria Aguiar, Miss Renascença de 1967.
Sônia Silva, Miss Renascença de 1970.



A era de ouro do Clube Renascença nos concursos de miss terminava em 1970, com Sônia Silva disputando com 27 outras candidatas a faixa de Miss Guanabara ficando em 3º lugar. Curiosamente nas duas ocasiões em que as mulatas do Rena conseguiram essa mesma colocação suas algozes foram coroadas Miss Brasil. Foi assim com Elizabeth Santos em 1966, que perdeu para Ana Cristina Ridzi e Sônia Silva que ficou atrás de Eliane Fialho Tompson. Outra coincidência: ambas eram louras. Polêmicas à parte, de concreto mesmo só o fato do Renascença se exilar das passarelas em definitivo e o Miss Guanabara perder o charme por não contar mais com a presença da torcida mais animada, calorosa e barulhenta do Maracanãzinho. De 1960 quando elegeu sua primeira miss até 1970, a agremiação só não enviou candidatas em 1965 e 1969. No primeiro caso a ausência teve como justificativa o sucesso internacional de Vera Lúcia Couto dos Santos no Miss Beleza Internacional de 1964 motivando o início imediato das obras de reforma da sede, porque a agremiação tinha conquista status atraindo ao quadro de associados uma parcela da então emergente classe média formada por profissionais liberais, construtores, intelectuais e artistas negros. Em 1969 alegação é que não tinham encontrado uma jovem em condições de repetir o sucesso das misses anteriores. Até porque as candidatas do Renascença eram aguardadas na maior expectativa pela mídia e o público  em geral, e sempre eram apontadas com favoritas. Coincidentemente, Ilan Amaral, única mulata inscrita no Miss Guanabara de 1969 pelo Cacique de Ramos não fico nem entre as oito finalistas. A mesma decepção ocorreu em 1968, quando o Renascença apostou todas as suas fichas em Ione Fernandes e ela ficou de fora do top quatro. Teve como principal adversária nada mais nada menos que Maria da Glória Carvalho, Miss Clube Monte Líbano, 3º lugar no Miss Brasil e única brasileira eleita Miss Beleza Internacional, no Japão. Mas para falar dessas verdadeiras Deusas de Ébano que não precisaram de cotas para conquistar fama e sucesso não poderíamos omitir um personagem que incentivava e descobriu muitas delas no seu ambiente de trabalho. Falamos da cabeleireira Dinah Duarte, proprietária de um salão de beleza no Méier, vizinho ao Andaraí, onde até hoje fica a sede do Renascença. Dinah não foi a idealizadora do concurso Miss Renascença, todavia foi a responsável pela incorporação de inovações na parte social do clube. Era Dinah Duarte responsável pela preparação das candidatas. Foi ela inclusive que produziu e acompanhou Vera Lúcia Couto dos Santos tanto nas fases estadual e nacional dos concursos como na viagem aos Estados Unidos onde participou do Miss Beleza Internacional na condição de Primeira Miss Brasil Negra, como a própria Verinha faz questão de dizer em todas as entrevistas. Atualmente o Renascença promove eventos sócio-educativos e culturais em sua sede. Foi fundado em 17 de fevereiro de 1951 por um grupo de negros de classe média que, impedidos de ingressar em clubes tradicionalmente frequentados por brancos, resolveu criar uma agremiação onde as famílias negras pudessem se reunir e se confraternizar se divertindo num ambiente social e cultural em harmonia, onde não sofressem discriminação. O grupo era formado pelos advogados Oscar e Jandir de Paula Assis; os comerciantes Domingos e Idalina de Jesus Soares, além dos irmãos médicos Humberto e Diva de Oliveira, e Enedina Rodrigues da Silva. Em 1958 o clube foi transferido para a Rua Barão de São Francisco, no Andaraí, mantendo, valorizando e preservando suas tradições culturais, mas exilado das passarelas que imortalizaram suas misses e o consagraram internacionalmente.


Texto: Mucíolo Ferreira (missólogo)
Fonte: Blog Fernando Machado

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